quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Spec Ops: The Line não é game, é arte!

Uns dias de folga...

     Desde pirralho sou fissurado em videogame. Já ficou famosa a frase que a minha mãe vivia falando naquela época: "tomara que esse menino cresça logo pra parar com esse negócio". Enfim, tive de crescer e abandonar alguns negócios da infância, mas esse, o dos games, sempre esteve comigo. A explicação é simples: eu cresci e amadureci, mas o mesmo ocorreu com os jogos eletrônicos. Hoje em dia, afirmar que videogame é uma diversão infantil é atestar ignorância. As produções estão cada vez mais aprimoradas e "hollywoodianas". Na verdade até mesmo o termo "hollywoodiano", que remete ao cinema norte-americano, chega a ser inapropriado, uma vez que a indústria dos games já ultrapassou a da sétima arte há um bom tempo.
     Cá estou eu, meu novo e turbinado PC e uns dias de folga. Resolvi ir atrás de alguns games atuais pra dar aquela testada no bonitão e fazer o danado esquentar um pouco. Minha pretensão era de apenas queimar umas horas matando soldados virtuais em algum game de guerra, mas pra minha surpresa acabei tendo uma experiência inesquecível onde o game jogou na minha cara: "Quer matar? Pois aguente as consequências!"


Não é game, é arte

     A minissérie em quadrinhos "Watchmen", do cultuado escritor Alan Moore, é considerada uma das melhores obras literárias já feitas (isso mesmo, literárias). O grande mérito do cara, além de contar uma ótima história, estava em definir uma mídia. Após Watchmen, os quadrinhos nunca mais foram os mesmos e finalmente foram levados a sério. Já a sua adaptação para os cinemas pelas mãos do diretor Zack Snider não passou de um filme genérico de "heróis". O fato é que aquele enredo, saído da cabeça do Alan Moore, foi concebido para a estética e padrões da mídia "história em quadrinhos". Você ali, leitor, virando as páginas e as próprias páginas fazem parte dos elementos imprescindíveis usados para se contar a história e aprimorar toda experiência. Da mesma forma acontece nos games. O que faz deles tão fascinantes é a possibilidade de interação e de imersão que a mídia "game" oferece. Sendo assim, o enredo de um game pode parecer desinteressante pra alguém que não viveu a experiência de fato. Talvez seja exagero fazer uma comparação com Watchmen e todo o seu legado no mundo das histórias em quadrinhos, mas ao terminar de jogar Spec Ops: The Line, senti que tinha participado de algo importante. Spec Ops: The Line, não deve ser tratado apenas como um game, mas sim como uma forma de arte.

O visual incrível de Spec Ops: The Line


Se não joga poderia começar por aqui! 

     Se você não curte games ou jogava na infância e abandonou a prática por qualquer que seja o motivo, ou ainda se você simplesmente não curte a parada, aconselho experimentar, pois esse daqui pode mudar um pouco a sua opinião. Spec Ops: The Line é um game do gênero TPS (third person shooter), algo como "jogo de tiro em terceira pessoa". Trata-se de um tipo de jogo de tiro em que o personagem que você controla está ali, na sua frente (daí o nome "terceira pessoa, ele/ela, dããã"), diferente dos FPS (first person shooter) ou "jogo de tiro em primeira pessoa" em que você vê geralmente apenas as mãos do personagem, criando a sensação de que é você de fato quem está ali nos cenários virtuais.
     Trocando em miúdos o game não trás nada de novo em relação aos demais de sua categoria. Podendo deixar os mais preguiçosos bastante desapontados. Conta sim com um visual incrível, na verdade um dos melhores que vi este ano e uma trilha sonora impecável, mas no geral passaria despercebido diante de tantos títulos similares. 


O que acontece em Dubai permanece em Dubai

     Se Spec Ops: The Line, não representa uma referência enquanto jogo de tiro, é no enredo que a obra faz seu nome. Tudo se passa em Dubai, cidade megalomaníaca no meio do deserto nos Emirados Árabes. A Dubai representada no game é impecável, com todos os seus arranha-céus utópicos, porém completamente devastada por uma catástrofe natural que fez com que gigantescas tempestades de areia engolissem grande parte da mesma, isolando-a de vez do resto do mundo. Os mais ricos conseguiram sair da cidade durante as tempestades iniciais. Já os mais pobres permaneceram. O coronel do exército americano, John Konrad desobedeceu as ordens de deixar seu posto em Dubai e lá permaneceu junto com seus homens dando assistência aos sobreviventes e promovendo uma tentativa de evacuação da cidade. Após algumas semanas sem receber nenhum tipo de comunicação de Dubai, o exército americano deduz que os planos do Coronel Konrad não foram bem sucedidos e manda uma equipe de três homens do Delta Force para uma missão simples: atravessar a tempestade, entrar na cidade devastada e procurar por vestígios do Coronel Konrad e seus homens. Ao menor sinal de sobreviventes a equipe deve contactar os Estados Unidos para solicitar uma evacuação. Você controla o líder da equipe, o Capitão Walker que está acompanhado do Tenente Adams e Sargento Lugo. Esse ponto de partida já parece bastante promissor pra qualquer game de guerra, mas o brilhantismo da história está por vir.

Ao fundo Tenente Adams e Sargento Lugo. Em primeiro plano Capitão Walker naquele que pode ser considerado o momento mais chocante e ao mesmo tempo brilhante do game

Perguntas sem respostas 

     O game desafia o jogador a tomar decisões em momentos de pressão absoluta, causando uma série de dilemas morais. Você irá se perguntar: "Em quem atiro?", "Em quem confio?", "Quem é o herói?", "Quem é o culpado?" e "E se eu tivesse recuado?". O mais brilhante nisso tudo é que o game não vai responder. Você toma sua decisão e o jogo prossegue, tal qual a vida real. O questionamento e o julgamento sobre os horrores da guerra e as suas ações diante de toda a situação acontece na sua cabeça. Baseado nesse tipo de escolha o game ainda surpreende ao oferecer 4 finais diferentes baseados nas escolhas que você faz no final da história. "Qual é o final ideal?". Tá aí mais uma pergunta que você deve tentar responder.


    É bem difícil escrever aqui sem entregar os pontos chaves da trama. Adoraria discutir e levantar teorias aqui sobre o game, a sua grande reviravolta e metáforas da narrativa, mas este post tem como objetivo atiçar a curiosidade de quem não jogou ou melhor ainda, de quem não tem o hábito de jogar. Sendo assim, a quem for comentar sobre pontos importantes da trama, faça o favor de avisar com letras garrafais: "SPOILER À SEGUIR", pra que os desavisados e não iniciados possam ter o livre arbítrio de ler ou não, ok?

Trailer do game abaixo:



Site oficial: www.specopstheline.com

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