segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Resenha - Música (Red Hot Chili Peppers - I'm With You)

Capa de I'm With You
     Já faz um bom tempo desde o lançamento de Stadium Arcadium, último álbum de inéditas do Red Hot Chili Peppers. O ano era 2006. A euforia em ouvir o então mais novo trabalho da banda era incontrolável, o que me fez garimpar por todas as 28 canções através do programa de compartilhamento Kazaa. Não foi uma tarefa fácil. Lembro-me de passar um final de semana inteiro baixando tudo a uma velocidade de conexão lenta demais pra ser mencionada. Porém, o preço de pegar aquele material furtado, salvar no meu mp3 player vermelho de 2GB (ainda tenho o danado aqui em algum lugar...) e ouvir no ônibus a caminho do estágio era indescritível. O baixo do Flea atravessava os meus ouvidos, a bateria genial de Chad Smith ditava minha pulsação, a voz e trejeitos do Anthony Kiedis me levavam pra um lugar seguro e a guitarra, ah ela, me fazia ter a certeza de que John Frusciante era a personificação do "guitar hero" dos novos tempos. Aquilo que eu ouvia não era um simples álbum, era uma obra definitiva, uma espécie de "greatest hits" só que com músicas inéditas. Logo pensei: "caramba, esse será o último álbum dos caras!". Veio a turnê, veio o anúncio do hiato e veio o maior baque: a saída de John (pela segunda vez). Logo pensei: "caramba, aquele foi o último álbum dos caras!".

     Felizmente eu estava errado. A banda não acabou. Muito longe disso (acho). Lançou mês passado o álbum de inéditas "I'm With You", fez um show ousado transmitido ao vivo em cinemas espalhados por todo o mundo e já iniciou a nova turnê, passando inclusive pelo glorioso Rock In Rio (que dessa vez foi no Rio de Janeiro de fato, que maravilha, não?). Mas todo mundo, estava curioso pra saber quais rumos a banda tomaria agora que o seu guitar hero estava fora da jogada. Aliás, a maior curiosidade era saber se o jovem Josh Klinghoffer, guitarrista substituto, iria segurar as pontas.
     Primeiramente é complicado entender a saída de John Frusciante. Ao que tudo indica a coisa foi amigável, mas fica claro que há algo no ar. As pausas enigmáticas em entrevistas quando o assunto é o ex-guitarrista mostram que não é fácil abrir mão de um verdadeiro talismã. Nas últimas décadas o cara têm sido o termômetro do sucesso da banda, participando daqueles que são considerados os melhores álbuns do quarteto. Daí o Flea vai estudar música erudita, a banda viaja pela África a procura de novos sons e o Anthony deixa crescer aquele bigode ridículo...parece ou não parece coisa de namorado sentido?

Anthony e seu bigode (vai virar tendência?)


Afinal, Josh Klinghoffer, você aguenta?

     Eu não queria estar na pele desse cara (ou queria). Na verdade, quem não gostaria de ser o guitarrista de uma banda como Red Hot Chili Peppers? O problema é ser esse guitarrista depois que o John Frusciante deixou o cargo. A responsabilidade é animalesca. Acontece que aparentemente não havia escolha mais acertada pra um substituto. Josh já fazia parte da banda, sendo o guitarrista base na última turnê e amigo do John. Uma amizade sólida, já que os dois chegaram a gravar álbuns juntos fora da banda. O rapaz se esforça, faz caras e bocas, mas a impressão é de que sua guitarra não tem voz. Ao vivo chegou a ser ridícula de tão baixa e sem expressão. Mas é evidente que a sua presença na banda gerou novos rumos. Levando os caras a incluírem em seu tempero elementos mais modernos, mais experimentais e que em alguns casos destoam bem do que foi apresentado nos álbuns anteriores e isso é bom, já que o Red Hot sempre foi marcado pela sonoridade eclética e inventiva.

     O novo álbum é sofisticado, com uso de coros e pianos para mostrar canções com pegada épica. O funk ainda está lá, em algum lugar escondido no meio do açúcar. Anthony mostra ótima forma. Chad e Flea levam o álbum nas costas, sendo este último bem menos impressionante que de costume. Josh apresenta uma guitarra em pleno desenvolvimento, ora bebendo da fonte Frusciante, ora experimentando demais, preferindo solos barulhentos, sujos e confusos a algo mais melódico e memorável. Sua voz bastante feminina causa estranheza nas primeiras audições. Seu caminho ainda é longo pra cair nas graças dos fãs mais ferrenhos (eu sou um deles) mas pelo menos no álbum o cara segurou bem, já nos shows...
     I'm With You supre a ansiedade dos fãs em ter material novo do Red Hot Chili Peppers e consegue entregar boas canções mesmo com a saída de um dos pilares da banda, o que já merece respeito. Há uma evidente melancolia escondida nos refrões, uma vontade de mostrar que está tudo bem nas canções mais alegres, e que há uma saída nas mais experientais. Red Hot Chili Peppers está passando por mais uma desilusão amorosa, quer mostrar que está tudo bem e precisa ouvir dos seus fãs um "I'm With You!".


Faixa a faixa


1. Monarchy Of Roses
Ué? Tem algo errado! Isso é Anthony Kiedis? Coloquei o álbum certo pra tocar? Essas foram as perguntas que fiz ao ouvir os primeiros momentos de Monarchy Of Roses. O começo com guitarra distorcida e a voz sintetizada de Anthony dão um susto nos fãs. Algo nos remete a One Hot Minute e sua pegada mais dark, mas pouco depois do susto vem o baixo pulsado de Flea com a batera do Chad bastante familiares e estamos num local seguro. Josh faz um bom trabalho de boas vindas aqui.


2. Factory Of Faith
Tesão puro ao ouvir a genial linha de baixo do Flea nesta ótima e altamente dançante canção. Pena que esses sejam um dos poucos momentos em que o Flea realmente mostra o seu valor. Josh joga aqui praticamente o tempo inteiro na posição de guitarra base, se atendo apenas a permear a canção sem ousar interferir na cozinha de Flea e Chad.


3. Brendan's Death Song
Empatia imediata nessa balada bem melancólica. Só peca em se repetir demais.


4. Ethiopia
EAOAEAE...ficará na sua cabeça! Primeiro grande momento do álbum. Os caras humilham mais uma vez em criar essa batida quebrada de fazer qualquer aspirante a músico desistir de seguir carreira. Quase podemos imaginar o John debulhando nesta canção que tem a cara das Jams intermináveis que ele fazia com o Flea. Senti falta do cara aqui.


5. Annie Want's A Baby
Opa!!! Coisa nova, hein? Embora o riff de guitarra no início mais uma vez nos remeta ao John, a estrutura e refrão mostram um caminho novo da banda. Uma de minhas preferidas. Muito bem vinda.


6. Look Around
Algo me diz que essa é uma grande candidata pra próximo single. Pancada legal. O tipo de canção que levanta a multidão e tem a marca registrada do Red Hot: cola na sua cabeça. Note no final o Josh e sua voz ganhando destaque num final bem previsível.


7. The Adventures Of Rain Dance Maggie
Essa foi a canção escolhida pra ser o primeiro single do álbum e que você pode conferir o clipe lá embaixo. Escolher a canção que divulgará um álbum não deve ser uma tarefa fácil, mas vamos ver se essa daí cumpriu o seu papel: temos um baixo muito bem marcado pelo mestre Flea, uma bela apresentação do novo guitarrista que consegue mostrar um pouco de personalidade ao mesmo tempo que relembra a pegada do John e pra coroar ainda há um refrão desgraçado de chiclete. Acho que deu, né?


8. Did I Let You Know
Ir até a África e buscar novos ritmos teria que render algo assim, não? Se bem que bastava ouvir alguma música do Calypso (saravá) pra chegar num resultado parecido. Did I Let You Know é uma daquelas pérolas que o Red Hot entrega de tempos em tempos. Tomara que vire single e ganhe um clipe à altura. Destaques pro curioso solo de Josh (que por sinal está ótimo nesta canção), o trompete do Flea e a voz feminina no coro. Ah, não é voz de mulher, é do Josh! hehe


9. Goodbye Hooray
Uau!!! Quebrou tudo. Música urgente, com um refrão que é impossível não cantar junto. Grandes chances de levar ao delírio ao vivo. Só tem um pecado! Embora o solo de baixo seja animal, o Josh bem que podia calar a boca de um monte de gente fazendo um solo de guitarra potente aqui, não? Oportunidade perdida.


10. Hapiness Loves Company
Da mesma forma que a viajem à África gerou Did I Let You Know, as aulas de música erudita de Flea tinham de gerar algo assim. Como se não bastasse o cara debulhar o baixo de forma humilhante ainda inventa de atacar de pianista aqui. Desgraçado talentoso.A pegada épica remete às loucuras musicais que o Daniel Johns do Silverchair têm produzido ultimamente.


11. Police Station
Bela. Comovente. Ponto altíssimo do álbum. Josh numa atuação contida e adequada. Tenho de tirar o chapéu pro cara que ainda faz um belo trabalho nos vocais. Os momentos com o piano arrepia. Novos rumos do Red Hot. Amadurecimento evidente. O que um chute na bunda não faz...Vale a compra do álbum.


12. Even You Brutus
Uau de novo! Coisa nova de novo! Música urgente de novo! Épica! Anthony e seu vocal hip hop característico dos primórdios. Josh em mais uma ótima atuação e um dos refrões mais marcantes e surpreendentes do álbum. Só seu final não faz jus à canção que termina de forma abrupta e sem criatividade.


13. Meet Me At The Corner
Algumas músicas do Red Hot Chili Peppers simplesmente poderiam ficar tocando em looping o dia inteiro que eu não me importaria. Hard To Concentrate, Road Trippin', Hey e If são alguns exemplos de canções que esses caras fazem com esse poder sobrenatural sobre a minha pessoa. Compartilham entre si uma sonoridade calmante e hipnotizante. Meet Me At The Corner acaba de entrar nessa lista. O interlúdio com Josh nos vocais parece ter saído de algum álbum do MGMT, tamanha é a semelhança. Por mim fecharia o álbum com maestria justo com a guitarra do Josh dando os primeiros sinais de independência e personalidade.


14. Dance, Dance, Dance
Mais uma vez achei ter colocado o álbum errado pra tocar. Achei que era alguma música do Kings Of Leon. Semelhança gritante. Demora um pouco a engrenar. Na minha opinião poderia ter acabado com Meet  Me At The Corner.

Clipe de The Adventures Of Rain Dance Maggie




Site oficial da banda:
http://redhotchilipeppers.com/

sábado, 1 de outubro de 2011

Resenha - Cinema (Amizade Colorida)

Pôster gringo de Amizade Colorida
     De tempos em tempos é possível presenciar algumas coincidências curiosas em Hollywood. Filmes com o mesmo tema são lançados numa mesma temporada. Me lembro de um caso emblemático quando fui assistir Velocidade Máxima 2 (Speed 2: Cruise Control, 1997), que se passa num navio desgovernado com gente em pânico à deriva e água por todo lado pra logo em seguida começar a ouvir falar de um outro filme sobre um navio gigantesco que bate num iceberg e...já sabe, né? Não sei se há uma pesquisa de opinião ou se é um mero fenômeno da indústria cinematográfica, mas isso ocorreu novamente. No início do ano tivemos Sexo Sem Compromisso, (No Strings Attached, 2011), estrelado por Natalie Portman e Ashton Kutcher, contando a história de um casal de amigos que resolve fazer sexo sem compromisso (ah vá, é mesmo?) pra alguns meses depois estrear nos cinemas Amizade Colorida (Friends With Benefits, 2011), com Mila Kunis, Justin Timberlake e a mesma sinopse. Não precisa ser muito exigente pra perceber que tudo aquilo que falta em Sexo Sem Compromisso tem de sobra em Amizade Colorida. Há um casal com uma baita química, tiradas realmente engraçadas e acima de tudo, uma comédia romântica que procura não se levar tanto a sério.
     Dylan (Timberlake) é um talentoso web designer que recebe uma proposta pra trabalhar em Nova Iorque na GQ. Jamie (Kunis) é uma espécie de caça talentos, responsável por fazer o lobby entre Dylan e a empresa, além de tentar convencer o rapaz a sair da Califórnia pra aceitar o promissor trabalho. A partir dos inusitados encontros entre os dois surge uma amizade. Como cada um deles saiu de um relacionamento conturbado e não pretende se envolver emocionalmente com ninguém, aparece a brilhante ideia da tal amizade colorida em meio a garrafas vazias de cerveja. Sexo livre, sem o peso de um relacionamento? Que maravilha, não? Mas não é bem assim, isso aqui ainda é uma comédia romântica e como tal você já deve imaginar o final.

Jamie (Mila Kunis) e Dylan (Justin Timberlake) tendo uma brilhante idéia 
     Mesmo com as divertidas tiradas que visam criticar as comédias românticas, como a divertida cena em que Dylan descreve a forma que os músicos compõem as trilhas sonoras do gênero, não havia como o filme se vender sem um típico desenrolar de comédia romântica. Todos os ingredientes estão lá,  mas o trabalho do elenco, muito bem escolhido, torna a experiência leve e extremamente divertida. Temos Woody Harrelson, interpretando Tommy, o colega gay de Dylan,  Patrícia Clarkson, dando vida à Lorna, mãe maluca de Jamie e Richard Jenkins, em ótima atuação na pele de Mr. Harper, pai de Dylan. O destaque maior fica por conta da química absurda entre Mila Kunis e Justin Timberlake (este último surpreende, parecendo encontrar aqui o caminho certo pra uma atuação decente). As cenas de sexo entre os dois me causaram dor no abdome de tanto rir.
     Pode ir sem medo ao cinema conferir Amizade Colorida. A diversão está mais do que garantida. E estejam avisados sobre a grande chance da música "Closing Time" do Semisonic ficar na sua cabeça por um bom tempo.