segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Resenha - Cinema (Cisne Negro)



     Nunca pensei que fosse me interessar por um filme que tem como pano de fundo o balé. Bem, na verdade o que mais me motivou a ver a película foi toda essa falação sobre a impecável atuação da atriz Natalie Portman (a tão falada cena de sexo lésbico também ajudou, né?). Acontece que nunca duvidei da competência dessa jovem e belíssima atriz. Me lembro com carinho quando a vi debutando no cinema ao lado de Jean Reno no filmaço O Profissional (Léon The Professional, 1994) e fiquei abismado com a atuação daquela garotinha de 12 anos. O tempo passou e tive o prazer de vê-la bem mais crescida (e bota crescida nisso) no ótimo Closer - Perto Demais (Closer, 2004) onde, na minha opinião, ela dá um verdadeiro show de strip...ops... interpretação. Resultado: virei fã. Se na ocasião de Closer ela nadou e morreu na praia (foi indicada ao Oscar 2005 de melhor atriz coadjuvante mas perdeu para a Cate Blanchett) agora a estatueta careca é mais do que certa.
     Cisne Negro (Black Swan, 2010) conta a história de Nina (Natalie), bailarina de um grupo de dança renomado que treina incessantemente para conseguir o papel principal do espetáculo "O Lago dos Cisnes". Vendo por esse ângulo parece uma proposta simples, mas na verdade a história vai ganhando um tom pesado sobre paranóia, insanidade e até onde alguém pode chegar para conseguir a perfeição naquilo que faz. O "visceral" é levado bem a sério aqui. O diretor Darren Aronofsky do recente e cultuado O Lutador (The Wrestler, 2008), entrega um filme que te prende do começo ao fim com uma trilha perfeita e uma câmera trêmula que nos aproxima ainda mais das cenas.  Nunca um cortar de unhas me deu tanto calafrio quanto em Cisne Negro.

Nina (Natalie Portman) e seu instrutor nada burro Thomas (Vincent Cassel)

     O elenco é bastante competente. Temos a Mila Kunis convencendo bem no papel de Lily, a rival de Nina, o talentoso Vincent Cassel vivendo Thomas, um instrutor de balé memorável e ainda a sumida Winona Ryder como a bailarina Beth. Mas é a Nina de Natalie Portman que saltam os nossos olhos. A sua metamorfose é sentida a cada cena.

Natalie Portman emagrece, aprende balé e ainda mostra a sua elasticidade assim. Oscar garantido.

     Cisne Negro é aquele tipo de filme que nos deixa angustiados e o trunfo é que essa é a intenção. Ah, e sobre a cena de sexo lésbico. Bem, ela está lá, mas o curioso é que o filme é tão maior e te deixa tão imerso que o impacto da cena pode ser completamente diferente do que se imagina.
     Se você estiver a fim de ver um filme curioso e muito bem dirigido, além de testemunhar a atuação que vencerá o Oscar desse ano, fique à vontade. Cisne Negro é uma ótima pedida.

Natalie Portman (Nina) e Milla Kunis (Lily) em promoção do filme


domingo, 23 de janeiro de 2011

Resenha - Música (Bon Jovi - Greatest Hits The Ultimate Collection)

Capa do álbum
     O Bon Jovi lançou recentemente um álbum duplo que atende pelo nome de  Greatest Hits-The Ultimate Collection. Trata-se da segunda coletânea de sucessos da banda que reúne os seus maiores hits desde o início da carreira, em meados de 1984 até o lançamento do seu mais recente trabalho de estúdio (The Circle) em 2009. A primeira coletânea (Cross Road)  foi lançada em 1994 e teve um enorme sucesso com a faixa bônus e então inédita "Always" tocada a exaustão e ganhando o coração do público feminino ao redor do mundo. Foi ouvindo este mesmo Cross Road, em formato de fita K7, no auge dos meus 13 anos, que despertei o desejo de procurar por todos os álbuns de uma banda de rock. Mais do que isso, foi o Bon Jovi que me ensinou inglês, que me incentivou a tocar um instrumento e de quem eu herdei a voz "anasalada" na hora de fazer minhas humildes performances musicais. Nem precisa dizer que sou um grande fã, mas não o tipo de fã cego que coloca a banda num pedestal e a defende com unhas e dentes, pelo contrário, aponto os defeitos, sinto falta da essência dos velhos tempos e me revolto com alguns álbuns recentes, mas não posso negar que esta é a banda que, ao lado de algumas outras, moram no meu coração musical. Do Cross Road pra cá já se passaram 16 anos e 6 álbuns foram lançados. Já tava na hora de fazer uma nova coletânea para dar a oportunidade dessa geração "140 caracteres"  conhecer essa verdadeira usina de sucessos que é o Bon Jovi.

Da esquerda pra direita: Richie Sambora (guitarra), Tico Torres (bateria), Jon Bon Jovi (vocal), Alec John Such (Baixista que deixou a banda em 1994. Hugh McDonald que o substituiu não aparece em fotos promocionais) e David Bryan (teclado)
      

Ouvindo o Ultimate Collection cheguei às seguintes conclusões:

1. Cross Roads é uma baita coletânea. O Bon Jovi da época de seu lançamento era bastante "redondo". As músicas compiladas no álbum vinham dos seus 5 primeiros trabalhos e as mesmas não destoavam tanto umas das outras. O Ultimate Collection pega essas músicas do Cross Road (tirando uma ou outra apenas) e as misturam com o Bon Jovi dos anos 2000. Aí meu amigo, a diferença chega a ser gritante, pois o Bon Jovi inegavelmente se transformou noutra banda após o seu maravilhoso álbum de 1995, o meu preferido These Days.

2. Enquanto Cross Road trazia duas canções inéditas e maravilhosas (a já citada Always e a ótima Someday I'll Be Saturday Night) cada cd do Ultimate Collection trás duas, totalizando quatro canções inéditas, porém, nem de longe elas fazem o estrondo de suas "amigas" (abaixo explico melhor). Aliás, Always e Someday I'll Be Saturday Night fazem parte do Ultimate Collection, o que não deixa de ser curioso. Afinal, são duas canções bônus de uma coletânea que acabam se tornando hits da banda e fazendo parte de uma outra coletânea. Fantástico não?

3. Como não poderia deixar de ser, a escolha das músicas não deve agradar a todos. Há muito material superior nos "lados B" dos álbuns e o fato de terem simplesmente ignorado o álbum Bounce de 2002 é imperdoável.

     Pois bem, fiz um "faixa a faixa". Ok, sei que esse é um álbum de coletânea e bastava comentar sobre as quatro canções inéditas, mas pôxa, eu precisava reviver tudo. Dá um desconto. Deixa eu fazer a sua cabeça e te tornar mais um fã?



Disco 01

01.Livin' On A Prayer
Retirada do álbum de 1986, Slippery When Wet (considerado um dos melhores álbuns de rock da história), esta canção é o hino do Bon Jovi. Conta a saga de um casal (Tommy e Gina) e seus perrengues. Quando a ouvi pela primeira vez não contive o arrepio. O clima da introdução, magistralmente executada por David Bryan (teclado) e o riff de "guitarra falada" que viria a ser uma marca da banda, entram na sua cabeça e nunca mais vão embora.

02.You Give Love A Bad Name
Também retirada do Sliperry When Wet de 1986, eis a pancada mais famosa da banda. Hard Rock nos seus melhores dias. É energia pura. Faz o favor de ouvir alto.

03.It's My Life
Esta canção foi o primeiro single do álbum Crush de 2000, álbum este que na minha opinião inaugura um novo Bon Jovi. It's My Life bebe da fonte de Livin' On A Prayer com o mesmo efeito de guitarra falada e ainda cita os já famosos Tommy e Gina em sua bela letra.

04.Have A Nice Day
Primeiro single do ábum de mesmo nome de 2005, Have a Nice Day sofre de crise de identidade. É mais do mesmo. Aliás, a partir de 2000 o Bon Jovi resolveu utilizar a mesma receita de bolo na cara dura. Ainda assim essa é uma ótima canção. Tradicional ao estilo "Bon Jovi 2000" de ser. Riff pesado e bacana, letra de auto-ajuda direta e reta. Sucesso.

05.Wanted Dead Or Alive
A "cowboy song" definitiva. Esta canção, também retirada do Sliperry When Wet de 1986, dá ao Bon Jovi o status de Deuses do Rock. Um clássico genuíno.

06.Bad Medicine
Retirada do fantástico álbum New Jersey de 1988, esta canção é o puro Hard Rock com a marca do Bon Jovi. Destaque para a guitarra nervosa do Richie Sambora.

07.We Weren't Born To Follow
Após tanta energia, vamos para este que foi o primeiro single do mais recente álbum de 2009, o The Circle. Que diferença hein? Domaram a fera direitinho. We Weren't Born To Follow é a tal receita de bolo que citei acima, porém com menos energia (ou seria fôlego mesmo?) e personalidade já que há uma tentativa desnecessária do Richie ser um The Edge do U2.

08.I'll Be There For You
Depois de sete canções "pauleiras" (leia-se pauleiras ao estilo Bon Jovi) já era hora de mostrar o lado mais popular da banda que reside em suas baladas "mela-cueca". I'll Be There For You, mais uma pérola do álbum New Jersey de 1988, é uma canção poderosíssima. Fico imaginando quantos filhos foram concebidos nos bancos de trás dos carros ao som desta verdadeira aula de balada hard. O vocal do Jon Bon Jovi é agressivo, consegue viver a letra de forma visceral. Tudo soa perfeito. Clássico.

09.Born To Be My Baby
Pôxa cara. Que inspiração. Como o álbum New Jersey foi feliz. Essa é a música. Sem mais ouça essa pancada no máximo e incomode os vizinhos.

10.Bed Of Roses
Hora de relaxar com mais uma balada. Alto nível nessa belíssima canção do ótimo álbum Keep The Faith de 1992. Letra tocante, feita sob encomenda para fazer as fãs gritantes ainda mais gritantes. Aqui Richie Sambora executa um dos seus mais belos solos de guitarra. E como tudo soa atual, não? Imperdível.

11.Who Says You Can't Go Home
Espantoso sucesso do álbum Have a Nice Day de 2005. Esta canção foi a responsável pela "viagem" do Jon Bon Jovi em fazer um ábum (aparentemente) country dois anos depois. Na época eu praticamente tive que a engolir. Hoje aturo e até a acho simpática. As garotas gostam. Tá valendo, né?

12.Lay Your Hands On Me
Esta é a canção que abre o álbum New Jersey de 1988. Aqui ela teve a interminável introdução limada, o que a deixou com praticamente metade do tempo. O que dizer? Este foi um dos momentos mais raivosos do Bon Jovi. Hard Rock puro e inigualável. Mais uma boa pra incomodar vizinhos.

13.Always
Tá aí a obra "mela-cueca" definitiva dos caras. Sucesso imediato. Se você nunca ouviu essa daqui com certeza não viveu neste mundo nos últimos 16 anos. Esta canção era uma das duas inéditas que vinham na coletânea de sucessos lançada em 1994, o já citado Cross Road. Só o Bon Jovi mesmo pra incluir uma obra-prima dessas num cd de coletânea e colocar as vendas do álbum na estratosfera. A introdução com a bateria do Tico Torres é inconfundível e antológica.

14.In These Arms
Quase ouço os gritos femininos me ensurdecer ao escrever sobre essa canção. Outra balada cheia de energia e com uma letra fulminante que só o Jon sabe fazer. Mais uma do Keep The Faith de 1992.

15.What Do You Got (INÉDITA)
A primeira canção inédita do álbum é uma verdadeira pérola. É impressionante como essa banda consegue entregar canções que te criam empatia imediata. What Do You Got é uma balada de melodia belíssima e nos dá a esperança de que o Bon Jovi ainda tem a pegada dos velhos tempos. O riff de guitarra do Richie nos remete a sucessos antigos como I Want You do Keep The Faith e a letra reflete o Jon nos seus melhores dias. "O que você tem se você não tem amor?" Confere o clipe dela lá embaixo e pense à respeito.

16.No Apologies (INÉDITA)
A segunda canção inédita soa um pouco estranha. No Apologies passa a mensagem de uma forma forte e quase épica. Mas peca em falta de personalidade. Sua batida pulsante me fez lembrar do Coldplay. Aí complica, né?


Disco 02

01.Runaway
O segundo cd do álbum abre com a primeira canção do Bon Jovi. Runaway abre o álbum Bon Jovi de 1984  e foi o passaporte para que um tal de Jon Bon Jovi e seus amigos pudessem se tornar o que são: Ídolos. Tudo começou aqui, com essa ótima representante do movimento Hard Rock dos anos 80. O falsete do Jon no final é impagável. Os novatos vão sentir vergonha alheia.

02.Someday I'll Be Saturday Night
Esta fazia parte, junto com Always, das canções inéditas da primeira coletânea de 1994, o álbum Cross Road. Ótima canção. Bon Jovi em um timbre agudo, num de seus melhores momentos. Nascia aqui o prenúncio do álbum que viria a seguir, o These Days.

03.Lost Highway
Segundo single do álbum de mesmo nome de 2007. A tal viagem country do Jon Bon Jovi. Lost Highway tem a pegada do Bon Jovi e uma letra muito interessante, porém a roupagem travestida de country não agrada a todos.

04.I'll Sleep When I'm Dead
Toda banda de rock bem sucedida e que lota estádios tem que ter o seu momento Rolling Stones. I'll Sleep When I'm Dead do ábum Keep The Faith de 1992 cumpre bem esse papel. Pelo jeito o Bon Jovi segue à risca a letra dessa canção. Vida longa pros caras. Aumenta o som e canta junto: "Seven days of saturday is all I need..."

05.In And Out Of Love
Retirada do segundo álbum da banda, o 7800º Fahrenheit de 1985. Aqui o Hard Rock impera. Vale a pena ir lá embaixo depois e conferir o clipe. Você irá se transportar para o universo da época em que o Bon Jovi se firmava como grande banda de rock.

06.Keep The Faith
Retirada do Álbum de mesmo nome de 1992, esta é uma canção singular do Bon Jovi. Vocal extraordinário de Jon, bateria pulsante do Tico Torres e um baixo surpreendentemente presente do Alec John Such. Impossível não elevar o astral.

07.When We Were Beautiful
Balada de pegada épica do mais recente álbum, o The Circle de 2009. Eu sinceramente não gosto dessas canções de tom épico. São belas canções que no meu ponto de vista não precisavam de uma roupagem tão séria e sofisticada. E os "sha-la-la" também não me parecem apropriados. Por mim não faria parte de uma coletãnea.

08.Blaze Of Glory
Esta é uma canção do primeiro álbum solo do Jon Bon Jovi, o Blaze Of Glory de 1990. O álbum inteiro foi concebido como trilha sonora de um filme de faroeste (Young Guns 2 - aqui no Brasil saiu com o nome Jovem Demais Para Morrer 2). A polêmica é que não sei se parece certo incluir uma canção de um álbum solo na coletânea. Mas o que dizer de uma banda que tem o nome do seu vocalista? Polêmica à parte, Blaze Of Glory é uma verdadeira obra-prima. O tipo de música que o Jon deve ter orgulho de ter feito. É tudo perfeito. Instrumental arrepiante, vocal inacreditável e refrão arrebatador.

09.This Ain't A Love Song
Belíssima balada do igualmente belíssimo álbum de onde ela foi retirada, o These Days de 1995. Que letra. Foram coisas assim que me incentivaram a fazer as minhas próprias canções.

10.These Days
Canção que leva o nome do álbum de 1995. Um momento raro do Bon Jovi. Único na verdade. Sintetiza grande parte dessa maravilhosa obra que foi o álbum These Days. Quanta melancolia. Que pena que foi só uma fase.

11.(You Want To) Make A Memory
Esta canção foi o primeiro single do já citado devaneio country do Jon, o Lost Highway de 2007. Curiosamente essa balada foi escolhida pra lançar o polêmico álbum. Uma jogada muito arriscada, mas vendeu. (You Want To) Make A Memory é arrastada mas convence com uma bela vocalização de Jon e Richie e uma letra tocante.

12.Blood On Blood
A coletânea chega ao fim com essa canção lotada de energia e retirada do New Jersey de 1988. A letra que conta a história de Jon e seus amigos Danny e Bobby narra acontecimentos da vida dos três. Ao final Jon conta que hoje seus amigos são bem sucedidos, um é advogado e o outro um médico, já ele acabou sendo um cantor de uma banda de roqueiros cabeludos. Nada de mais, né?

13.This Is Love This Is Life (INÉDITA)
Terceira canção inédita da bolacha. Mais do mesmo é a palavra. Anote o seguinte: se não tivesse sido mostrada aqui, com toda certeza essa seria o single de algum álbum do Bon Jovi dessa nova leva. Mesmos ingredientes. Mesmo riff com guitarra falada. Letra de auto-ajuda. Acostumen-se, esse é o Bon Jovi atual. 

14.The More Things Change (INÉDITA)
Início estranho. Letra legal. Solo bacana. Parece uma Someday I'll Be Saturday Night com preguiça. Enfim, nada extraordinário.


Sou apenas um cantor de uma banda de roqueiros cabeludos. Nada de mais, chato até, né?








Ufa! Essa ficou grande hein? Se você chegou até aqui só tenho a agradecer. Espero que tenha gostado e até a próxima.

Site oficial da banda:
http://www.bonjovi.com/



sábado, 15 de janeiro de 2011

Quando minha escola foi assaltada

     Essa semana, ao ver no noticiário local que uma escola particular havia sido assaltada, tive acesso instantâneo à memórias adormecidas. Lembrei com riqueza de detalhes que o mesmo havia acontecido comigo quando eu estava na 4ª série do então 1º grau, atualmente conhecido como ensino fundamental.
     Eu era um garoto magro e alto de 11 anos de idade em mais um dia de aula normal. A escola - ou colégio como costumo chamar - tratava-se do Centro Educacional Montessori, instituição particular onde formei grande parte do meu caráter e que situava-se em Caruaru, cidade do interior de Pernambuco. O modelo de ensino pouco ortodoxo do método montessoriano incluía salas de aula amplas com janelões que proporcionavam contato constante com a natureza, além de contar com bebedouro e banheiro dentro das mesmas (pois é, não tinha como fugir). A professora desse ano (1992) era a querida Dalvani. Ou "Tia" Dalvani, forma carinhosa a qual fomos ensinados a chamar nossas queridas segundas mães. Ó, Deus, como me apegava a essas figuras que faziam parte da minha vida quase que diariamente. Tia Dalvani tinha um porte elegante, muitas vezes autoritário. Sua fama de "durona" era bem conhecida, o que fazia dela uma das mais temidas professoras da minha época. Conseguir sua aprovação e seu sorriso não era uma tarefa fácil, mas quando acontecia nos enchia de satisfação e orgulho. Por esse motivo, presenciar a sua reação diante de um acontecimento tão desesperador como um assalto foi uma experiência impagável.
     O silêncio imperava nos corredores do meu belo colégio. Era uma tarde calma, porém a aula estava prestes a ser interrompida. A secretária que batia na porta de madeira e visores amplos de vidro chamava Tia Dalvani em particular, mas o seu estado denunciava algo grave. A mulher estava visivelmente pálida e a perigosos milímetros da histeria. Enquanto Tia Dalvani tentava se recompor e demonstrar sua elegãncia de sempre ao comunicar os seus queridos alunos do fato, o boato "o colégio está sendo assaltado" já havia chegado a mim na velocidade da luz. Sem acreditar no que estava acontecendo arregalei os olhos e voltei a minha atenção pra ela que começava a acalmar a turma. Dizia com a sua dureza se esvaindo: "Pois bem, vamos todos nos acalmar por que o nosso colégio está sendo assaltado nesse momento". Enquanto os alunos começavam a se manifestar, cada qual à sua maneira, Tia Dalvani aumentava o volume do seu sermão e apaziguava a situação apelando para a oração: "Minha gente, pelo amor de Deus, vamos nos acalmar. Pegue na mão do seu colega, vamos fazer uma roda de oração. Rezemos o 'Pai Nosso' em uníssono e se um desses bandidos tiver a coragem de fazer algum mal a qualquer um de nós o seu coração há de amolecer ao ver uma roda de crianças lindas e puras rezando por misericórdia". Lindas? Nem tanto. Puras? Complicado viu! Eu e meus camaradas estávamos adorando tudo aquilo. O perigo ainda não fazia parte de nossas vidas e sorrir daquela situação parecia ser a melhor saída. Enquanto rezávamos o Pai Nosso, não resisti e abri os olhos. Comecei a olhar ao meu redor e observar a reação de cada indivíduo naquela sala. Uns guardavam sorrisos. Outros choravam. Todos tremiam. Quando pairei o olhar na nossa professora vi uma figura completamente diferente daquela fortaleza diária. Era uma mulher apavorada e prestes a esbofetear algumas das crianças mais gritantes. Afinal, sua vida dependia daquela roda de oração de crianças "lindas e puras" e os sorrisinhos e piadinhas estavam arruinando seu plano. Antes mesmo que a oração chegasse ao seu fim, o mais medroso e histérico dos alunos, largou a roda e partiu aos prantos para o banheiro dentro da sala de aula trancando a porta imediatamente. A Tia Dalvani prontamente absorveu parte do desespero do garoto e gritou: "todos deitados no chão pelo amor de Deus". Aquele garoto preso no banheiro, pedindo socorro parecia ter despertado todos para a gravidade da situação. Foi quando Tia Dalvani percebeu que a atitude do garoto, embora covarde, parecia ser a mais acertada. Perto da porta ela pedia: "Fulaninho, não se desespere. Saia desse banheiro. Tudo vai ficar bem. Não amedronte seus colegas". O fulaninho só chorava e berrava, pronunciando, murmúrios e palavras sem sentido. Tia Dalvani reforçava o pedido: "Fulaninho, saia desse banheiro ou então deixe que outros possam se juntar a você". Antes que o garoto destrancasse a porta e a coitada tivesse de conter a manada de mais de 20 pessoas (incluindo ela mesma) adentrado o minúsculo banheiro, surge Tia Fátima, professora da 3ª série, anunciando o término do assalto e a partida dos bandidos. Pronto, o tormento havia acabado. Lá estava a Tia Dalvani voltando à sua elegância e dureza de sempre mandando todos para os seus lugares. Ainda fazem professores assim?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Monster Extreme Black - Quase morri engasgado

   Antes de entrar em uma academia, eu tinha um preconceito gigantesco com a prática da musculação. Achava muito exagerada essa correria pra se adequar aos moldes de beleza e pra completar odiava os "playboys" que malhavam por 6 meses e já andavam de "asas" abertas exibindo com a ajuda de camisetas de gosto duvidoso os músculos que provavelmente só eles e as mães deles percebiam.
     Quando a minha magreza começou a me incomodar permanentemente (leia-se o dia em que revelei uma foto sem camisa na praia próximo à vários coqueiros e alguém perguntou qual dos coqueiros era eu) resolvi seguir os conselhos de um amigo e fui me matricular em uma academia. Paguei a língua. Em aproximadamente 1 mês e meio de treino eu já desfilava pelas ruas da minha cidade com as malditas "asas" abertas. Os resultados demoraram bastante pra mim. Com o meu metabolismo exagerado e sempre passando longe dos anabolizantes só fui ver músculos de verdade após 1 ano de treino. Com a orientação de alguns profissionais competentes, treino intenso e alguns placeb...er...suplementos acabei conseguindo deixar aquela foto dos coqueiros no fundo do baú.
A imponente lata do Monster Extreme Black
     Hoje, após quase 5 anos de idas e vindas em diversas academias, faço o básico, mantenho o esqueleto em movimento e procuro desestressar um pouco o dia a dia nos supinos, mas confesso que malhar é uma atividade extremamente chata. Repetições e mais repetições, dor, gente deixando rastro de suor, música alta e de mal gosto, repetições...já falei isso, né? Culpa das repetições. Quando se chega nesse nível você precisa de estímulo. Pode ser um amigo malhando junto com você, pode ser um elogio feminino, mas nada se compara ao suplemento. Mesmo sendo placebo na maior parte das vezes, o ato de ingerir esses shakes e pílulas milagrosas te dão um estímulo infernal na hora de encarar as anilhas. Talvez grande parte desse estímulo resida no seu rico dinheirinho que foi investido, porque se você gasta uma nota preta numa parada é bom que ela funcione. Então, pra que eu pudesse sentir aquele vigor, aquela coragem dos gloriosos primeiros dias, resolvi investir nos chamados "packs". Pra quem não sabe, os packs são uns pacotinhos que contém uma série de pílulas e comprimidos com vários tipos de vitaminas, minerais e proteínas necessárias para suplementar a dieta de quem pega peso. Já havia tomado nos velhos tempos e resolvi retomar já que me recordo de ter gostado. Fui à loja de produtos naturais do shopping, vi lá aquela lata de porte agressivo e letras garrafais "MONSTER EXTREME BLACK", não resisti e comprei. Porém, eu havia esquecido o quanto é complicado ingerir a parada. O tal pack contém 12 unidades entre comprimidos, drágeas e pílulas e deve ser tomado de uma vez antes do treino. Há na lata a indicação de tomar dois packs ao dia, mas isso vai depender da sua "monstruosidade". Até que a tarefa não é tão árdua assim. Paciência e um belo copo d'água resolvem o problema. Bom, resolve até quando é a vez dela: a pílula assassina. Corrijam-me se eu estiver errado, mas todos esses packs, não importa a marca, contém entre os comprimidos um em especial que se destaca pelo exagero do tamanho. Pra que isso? É alguma espécie de teste? Do tipo: vai frango, você é monstro ou não é?

Precisa apontar qual é a assassina?

Tomando o Monster Extreme Black
    
1º dia: Encarei e coloquei pra dentro sem pensar duas vezes. Sou monstro. Após vários goles d'água,  derrotei a miserável, que se agarrava e arranhava o meu esôfago enquanto descia para a sua última morada.

2º dia: Tive a brilhante idéia de partir a dita cuja para amenizar o processo. Não sei o que aconteceu mas a parte onde foi feito o corte colou na minha garganta bem próximo à epiglote - se você faltou a essa aula de biologia a imagem lá embaixo vai te orientar - me deixando completamente aflito, pois respirava com dificuldade e quando engolia os goles d'água os mesmos passavam com uma lentidão absurda só pra confirmar a gravidade da obstrução. Suei como um louco e me preparei pra dirigir até o hospital mais próximo quando começaram os espasmos involuntários. Era o meu corpo tentanto expulsar a monstra. Vi que não teria condições de dirigir e lá vem porteiro, vizinho, cachorro acionados pelos gritos da minha mãe. Como um passe de mágica aquele tormento acabou, sem aviso algum senti as garras da assassina rasgando as paredes do meu esófago. Respirei fundo. Ainda estava vivo. Peguei a outra metade, bati no fundo do copo com a ajuda de um cabo de uma faca, misturei com um pouco d'água e botei pra dentro. Uê, foi caro bicho!


     Embora o texto tenha lá as suas tiradas cômicas, preciso desabafar a gravidade da situação. Foram momentos de muita agonia que poderiam acabar mal. Este é um produto bacana, que não trás riscos à saúde mas pelo jeito deveria vir escrito em algum lugar da embalagem que pode te matar engasgado. Senhores fabricantes, façam alguma coisa. Fica o apelo.