domingo, 26 de dezembro de 2010

Resenha - Música (The Gracious Few)

     Quando se é fã de determinada banda/artista você se empolga como uma criança quando há um novo trabalho a ser lançado. Você vai lá, compra (baixa) o novo cd do dito cujo com a maior satisfação do mundo e começa a ouvir faixa a faixa tentando encontrar alguma música que te faça sentir igual a quando ouviu o(s) desgraçado(s) pela primeira vez, mas o resultado é que a sensação só vem depois de umas 3 ou 4 audições. Ou seja, precisamos nos acostumar com as canções e dar um voto de confiança para aqueles que chamamos de ídolos continuarem sendo os melhores. Por isso, quando ouvi o cd de estréia da banda The Gracious Few me espantei, pois fazia um bom tempo que um álbum não me empolgava tanto na primeira audição. Que porrada!!!
     Pra quem não sabe (e acredito que muita gente não saiba mesmo) The Gracious Few é uma banda formada por alguns integrantes da finada Live (leia-se todos os integrantes menos o vocalista Ed Kowalczyk) e mais dois da banda Candlebox. Eis a quadrilha:

Kevin Martin - Candlebox (vocal)
Sean Hennesy - Candlebox (guitarra)
Chad Taylor - Live (guitarra)
Chad Gracey - Live (bateria)
Patrick Dahlheimer - Live (baixo)


Da esquerda pra direita: Chad Taylor, Kevin Martin, Patrick Dahlheimer, Sean Hennesy e Chad Gracey


     A banda Live, da qual sou um grande fã se desfez recentemente e deixou aqueles que os acompanhavam órfãos. A coisa aconteceu de uma forma complicada, já que em uma carta aberta aos fãs, o guitarrista Chad Taylor informou que o hiato de 2 anos anunciado antes pela banda se tornaria o final de suas atividades. Nos momentos mais dramáticos da carta o mesmo conta ter sido apunhalado pelas costas pelo então amigo, o vocalista Ed Kowalczyk que havia assinado um contrato em segredo em 2005 e que não incluía os demais integrantes. Não deu pra entender muito toda a situação, mas o cara transparecia estar muito puto com tudo aquilo. Enquanto o Ed lançava o seu primeiro cd solo (bem morno por sinal) sem comentar nada a respeito do assunto, do outro lado surgia os tais Gracious Few movidos em grande parte pelo ódio e pela vingança...MUAA-HA-HA-HA-HA! Tá aí alguns ingredientes que fazem falta no rock hoje em dia!
     Chega de conversa fiada e vamos a um "faixa a faixa" da bolacha, pois os caras merecem.

01.Appetite
Cuidado na hora de escolher a primeira música do seu cd de estréia. Aqui eles quase abusam da paciência do ouvinte com uma introdução longa e repetitiva, mas logo mandam um riff poderosíssimo. Ousadia de quem acredita no trabalho que está entregando. "Appetite" dá o tom de como as coisas devem seguir em diante. A sonoridade me lembra coisas antigas do Led Zeppelin e mais recentes como o Audioslave. Quer mais?

02.Honest Man
Escolhida acertadamente como o primeiro single, "Honest Man" sintetiza essa união de instrumentistas de primeira linha do Live com a voz e os trejeitos do Kevin. É impossível não compará-lo ao Ed Kowalczyk e isso ocorre em todo o álbum, mas o cara demonstra que tem personalidade e pode criar performances memoráveis. Esta é uma delas.

03.Guilty Fever
Seria um recado para o Ed? O peso da culpa tá te incomodando? Mais uma que não perdoa. Tesão puro a harmonia do grupo. Destaque para o brilhante trabalho do Chad Gracey na batera e a entonação debochada do Kevin Martin na interpretação.

04.The Few
Primeira sensação de Dèja vu. Aqui é no vocal. Fica complicado não imaginar o Ed executando essa daqui com aquela sua mania de cantar de forma "falada" os trechos que antecedem o refrão. Porém o instrumental raivoso dificilmente faria parte dos trabalhos recentes do Live.

05.The Rest Of You
Ufa! Finalmente um breve descanso depois de tanta pancada. O coração tava quase explodindo. Pois é, chegou a hora do refrão. Esse aqui vai grudar já na primeira audição Isso sim é música nova feita da forma "old school". Destaque pra interpretação do Kevin, bem mais à vontade e lógico, ao instrumental característico do Live, que te embala de forma gentil e te leva pra uma explosão sonora.

06.Crying Time
Incontestavelmente o ponto mais alto do álbum. Que música. Que banda. O Patrick Dahlheimer mais uma vez entra em cena com o seu baixo fenomenal cheio de personalidade e executa um riff pulsante. Kevin canta com sentimento os primeiros versos e somos então apresentados ao belo refrão cantado em coro. Belíssimo. De fazer chorar. Poucas baladas me surpreenderam tanto nos últimos anos. E vale a pena comentar sobre o solo de guitarra inspiradíssimo nos momentos finais da canção. Adequado e perfeito na sua execução. Nota 10.

07.Silly Thing
Mais um momento de Dèja Vu. Desta vez a semelhança com vários hits do Live é evidente (embora mais agitada, "Sun" do álbum "The Distance To Here" é um deles). Parece que falta algo. E falta mesmo, é o Ed, afinal essa é uma canção com a assinatura do Live. Destaque para o solo de guitarra bem inspirado e a vontade incontrolável de cantar junto com o Kevin.

08.Closer
Depois de uma introdução "cantada no ouvido" pelo Kevin (não gostei muito, muita intimidade hehehe) explode mais uma pancada. Tão te chutando na barriga e ninguém vai te ajudar. Só uma palavra, aumenta, isso é o rock que o Live deveria estar fazendo antes do Ed pular fora.

09. What's Wrong
Ah, bons tempos do Live. Como disse, fica impossível não relembrar sucessos dos caras. Tá aí um exemplo daquele instrumental calmão que te deixa de orelha em pé, aguardando o que os caras pretendem fazer. Na velha receita tão bem executada no passado. Ótima pra ouvir no carro com a sua gata. Clima garantido. Vale um destaque pra o ótimo trabalho do Kevin no vocal.

10.Tredecim
De volta aos tempos do pós-grunge. Tem uma chupada em temas do Soundgarden e o vocal se assemelha com coisas do Placebo. Já o instrumental é de dar um nó na cabeça de quem ouve. Tente acompanhar a bateria no início. Te dou um doce se você conseguir. Está brilhantemente quebrada meu caro. Tenta aí com a tua bandinha repetir essa parada. O refrão é grandioso, beira ao épico. Mais uma vez é executado em coro e arrepia. De meter medo.

11.Nothing But Love
T-E-S-Ã-O! Pronto. Tá definida a música em uma palavra. Mais um ponto alto no álbum. Isso é Live nos seu primórdios, mas dessa vez o Ed não faz tanta falta, pois o Kevin atua brilhantemente no vocal. A canção usa um dos ingredientes que me fizeram ser um fã do Live. Eu o chamo de "montanha-russa" ou ainda "música com transtorno bipolar". Eles te embalam com um riff, algo relativamente sereno, isso vai aumentando, subindo, o volume do seu som parece ter vontade própria e então você se vê no meio de um refrão explosivo que após sua execução retorna à posição inicial de falsa calmaria. Perfeição.

12.Sing
E não é que os caras se mostram bastante ecléticos com essa obra? Soa bem diferente do que foi mostrado até agora. Refrão desgraçado de pegajoso e um instrumental muito eficiente. Começa com uma pegada bem dançante, algo bem cuca-fresca, mas ganha um ar mais darmático nos seus momentos finais. Fecharia a bolacha de forma muito interessante.

13.All I Hear
Pois é, não acabou ainda. Tem mais essa. Ainda é o Gracious Few? O tom eclético continua. Mais um pouco e os caras incluiriam um "reggae". Destoa um pouco da proposta, mas tem uma ponte animal que vale a ouvida. O instrumental mais uma vez beira a perfeição.

     Sou muito suspeito, pois sou um fã incondicional do Live. Adoro o Ed, mas os caras conseguiram fazer um trabalho bem superior ao seu trabalho solo. Parece que a raiva fez bem hein? Uma verdadeira grata surpresa. Viva o verdadeiro Rock 'N Roll!
Vídeo com uma das minhas preferidas. "Crying time":


Site oficial da banda:

9 comentários:

  1. Lendo estes comentários da até vontade de comprar (baixar) o CD ,ficar ouvindo e tentando encontrar e entender tudo isto que foi dito.

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  2. Tive a oportunidade de conhecer a banda por seu intermédio e foi uma grata surpresa. A sua análise está perfeita. É uma grande banda. Teria a acrescentar, apenas, que o solo de "Crying Time" *3m36s* foi totalmente inspirado - prá não falar chupado - em *Confortably Numb* do Pink Floyd, considerado por muitos um dos mais fantásticos da história do rock. Saca só:
    http://www.youtube.com/watch?v=3duAGTJ_QJI&feature=fvwrel

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  3. Mestre Paulo como sempre enriquecendo os posts com seu conhecimento musical!

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  4. Muito boa a banda...Também sou suspeito! Sou fã inveterado do Live, mas o Gracious Few trouxe de volta a "raiva" e a constestação dos álbuns antigos do Live...

    Você utilizou muito bem as palavras e a resenha tá excelente...

    Quando ao CD solo do Ed...Não existe outra palavra que defina melhor: Morno! Muito "Birds Of Pray" e beeemm longe da energia de um Throwing Copper ou Mental Jewerly...

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  5. Ótimas impressões Eduardo! Tomara que o Ed esteja aprendendo e ouvindo o Gracious Few. Quem sabe assim veremos um retorno triunfante e cheio de "raiva" do Live? Não custa sonhar!

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  6. Cara muito bom, mesmo. Li bastante o blog do Chad na época da separação da banda e os caras estavam bem raívosos e já trabalhando nesse album do Gracious Few. Mas fico imaginando algumas dessas músicas com o vocal do Ed... ia ser um grande disco do Live...
    Ah gostei muito de Honest Man e Closer. Agora é torcer pros caras virem aqui para o Brasil.

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  7. Kevin Martin é um dos vocais que mais me surpreendem no Rock, está quase ao nível de um Myles Kennedy ( Alter Bridge ).

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  8. Curti bastante, e na minha opinião, o vocal do Kevin é muito melhor que o do Ed. Um Live melhorado!!!

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