sábado, 11 de dezembro de 2010

Clones do Datena

     Eu, assim como qualquer bom cidadão, gosto de chegar em casa, ligar a tv e ver as notícias do dia. Ficar informado sobre o que acontece no mundo, no Brasil e na cidade onde vivo é um prazer que vamos adquirindo aos poucos, quando finalmente deixamos de lado coisas como o joystick (no meu caso nunca, mas enfim...).
     Hoje em dia a notícia está bastante acessível e é entregue ao expectador de maneira muito rápida - isso quando não é entregue antes mesmo do fato acontecer (?) - através de vários meios de comunicação. Com tantas opções, nós podemos (e devemos) trocar de canal, revista ou site, sempre que der na telha, afinal nós mandamos nessa p#$%@. Mas infelizmente não é assim que a coisa anda. Muita gente nesse Brasil de meu Deus senta como zumbis em frente à telinha e concorda com tudo o que se passa por ali. Muita gente tem preguiça de pensar e formar uma opinião própria. E se houver um repórter durão que faça comentários "pessoais" após ler a notícia é melhor ainda. É aí onde mora o problema. Se você trocar de canal tem sempre um repórter durão que resolve abrir a boca e tecer comentários inflamados sobre as notícias mais escabrosas. Não condeno a prática, muito pelo contrário, até a acho interessante. Quando vi pela primeira vez o Bóris Casoy soltar o bordão "isto é uma vergonha", arregalei os olhos e perguntei: pode fazer isso? Era transgressor ler a notícia com as narinas dilatadas e depois fazer um comentário duro demonstrando indignação e repúdio ao noticiado. Em outras marés surgia o repórter policial Luis Carlos Alborgheti que praticamente fundou a escola de dar notícias policiais desafiando os bandidos com um porrete em cima da mesa. As performances do cara eram tão debochadas que dificilmente não geravam gargalhadas em quem assistia. Ao final de cada programa, de uma forma estranha, sentia uma sensação boa, como se a voz da população estivesse sendo ouvida, pois afinal de contas lei é bom, mas "porrada em vagabundo" é bem melhor (não disfarça, eu sei que você concorda).




     Como tudo o que dá certo acaba sendo copiado vieram as "inspirações", como o bigodudo Ratinho e numa linha mais séria o José Luiz Datena, sendo este último o mais copiado em todo o território tupiniquim. É impressionante. Em todas as redes de televisão em todos os estados da federação há um clone do Datena. Repórteres "durões", com transtorno bipolar, na maioria das vezes trajando terno e gravata, noticiando assassinatos, estupros e afins com narração peculiar, trejeitos forçados, apontando o dedo em riste pra tela e se revoltando com os bandidos a ponto de ter um colapso nervoso ao vivo. Tal modelo foi brilhantemente interpretado recentemente nos cinemas pelo ator André Mattos no filme Tropa de Elite 2. Devo confessar, acho o Alborgheti uma lenda, o Ratinho uma figuraça e aprecio bastante a personalidade do Datena, mas detesto esses clones. Os outros parecem ser mais autênticos ou pelo menos têm realmente coisas interessantes pra falar, mas essa galerinha aí, pelo amor de Deus. Acho que tá na hora de voltármos um pouco atrás. Vamos voltar a ler as notícias por trás da bancada de forma contida e deixar a reflexão para o expectador. A gente não precisa de um engravatado maluco se esperneando pra nos tocar que estupro é uma coisa bárbara e degradante.



     Aqui na Paraíba temos uma série de exemplares desta leva de clones do Datena em todos os canais locais. O mais assitido deles, Correio Verdade, ultimamente "inovou", colocando não só um, mas dois engravatados. Eu me acabo de rir quando os dois se atropelam. A gota d'água foi quando ao exibirem uma notícia sobre um assassinato ouvi ao fundo a sonoplastia de tiros embalando a notícia. Até onde isso vai, hein? Tiros ao fundo enquanto o jornalista narra o fato? Daqui a pouco são gritos agudos femininos durante uma notícia de estupro. Isso é sério E NÃO TEM GRAÇA, NÃO TEM G-R-A-Ç-A! (POW)*

(*) som do meu porrete em cima da mesa

4 comentários:

  1. O personagem de André Matos em Tropa de Elite, na verdade, é uma espécie de *homenagem* ao deputado e apresentador Wagner Montes, cujo programa, Balanço Geral, é extremamente popular no Rio de Janeiro. Saca só pq:

    Zoando bandidos que morreram:
    http://www.youtube.com/watch?v=VhUI1m0QJPA

    E essa é imperdível, comentando a prisão de Dado Dolabella:
    http://www.youtube.com/watch?v=ihyFnI3pFnc&feature=related

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  2. Nossa, como pude me esquecer do Wagner Montes? Outra lenda! Ótimos vídeos! hsuahsau

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